... bourbons... alcatrões... e pensamentos intoxicados...

6 de janeiro de 2017

O Mundo sob Trump? Mas..oh shit.


Estamos de mudanças há algum tempo, e parece que não tardará para que o mundo e, em especial eleitores americanos banalizados por um "sonho" americano muito longínquo caiam em si do que escolheram para o resto do mundo. Isso mesmo, para o resto do mundo, porque estamos vendo a radicalização de um discurso que deveria, muito pelo contrário, acalmar os ânimos e olhar para os seres humanos que estão ao redor do globo. Os Estados Unidos não vão se fechar, não estarão menos presentes na resoluções e discussões do principais temas mundiais e muito menos presentes nos caminhos que a economia global vai tomar. Mas certamente a conversa vai piorar. O rumo não deveria ser o isolamento total, numa crise que já é profunda e clara em vários pontos dos continentes. Não há saída com a radicalização, que foi tentanda por muitos presidentes americanos.

O fato é que Donald Trump não termina seu mandato como presidente da maior potencia do planeta. Isso porque fez muitos inimigos durante as eleições contra a democrata Hillary Clinton. Há sinais claros que atritos incontáveis contra todo o estabelishment Washington. Trump não é somente um político novo numa política velha. É uma nova versão para detonar a velha burocracia em todos os níveis. Antes dele, o clã dos Bush não poupou qualquer medida dentro do senso ético para alcançar seus objetivos. Nada que conseguisse tirar os Estados Unidos do lugar, que conseguisse resolver as crises que o mundo apresentava e que deixasse alguma esperança de um futuro melhor para a nossa geração.

Não há como negar que o processo decisório foi repartido para outras instâncias. Agências governamentais e organismos não governamentais conseguem enxergar o tamanho do embaraço em que nos achamos agora. Não caberia, mesmo que quisesse a um homem só deter todas as informações que hoje circulam pelo planeta. São muitos bites, muitas fórmulas e bastante informação rolando no submundo. Ainda mais num mundo superpopuloso como hoje. Cabemos dentro de qualquer estrutura, seja um chip, seja um super provedor de internet, como a NSA. Além disso, olhar tudo e todos demanda uma grande cooperação, e os EUA não tem essa visibilidade em todos os lugares. Há muitos, muitos pontos cegos do planeta.

Sorrateiramente, Donald Trump chegou, sem uma pauta, sem uma fórmula e sem e sem força. A força da qual precisava está na bravata, como um jogador de pôker, que blefa constantemente para obter o que deseja. Hoje o cenário não convergente do presidente eleito vai deixar um vácuo no equilíbrio de forças, principalmente na área social. Aquilo que não se pode deixar mais sob demanda é a inclusão de pessoas na era digital, para que tenho acesso ao mínimo de desenvolvimento.

Em 2011 estive na em Berna, na Suíça com um professor de economia que me explicava quando seria o momento da mudança à direta no continente europeu. É no momento em que os empregos faltam que os culpados começam a serem apontados, com aquele dedo duro sempre ameaçador. É comum da raça humana procurar culpados para as crises, seja social, econômica ou política. Donald Trump escolheu o seu: a China. Acontece que a China é a mão de obra do mundo, há bastante tempo. Lá estão todos que procuram preço.

Não há uma empresa no globo hoje que não procurem os chineses para produzir seus produtos. Não está na Rússia, não está nos EUA. Está na China. Donald Trump está levando os Estados Unidos para uma confrontação histórica com a China que pode mudar todos os acordos comerciais hoje existentes. Já disse que vai anular alguns deles, firmados pelo presidente Barack Obama.


Esperava-se uma curva descendente de ataques e bravatas, com recuos maiores do que os vistos até o momento, mas dificilmente o cenário e as combinações de vontade política e crescimento econômico global vão mudar. Os desafios que vem por aí é encarar um mercado de trabalho completamente fragmentado, com crises de histeria, protestos, decadente politicamente, socialmente esquizofrênico e contabilizado por oportunismo e sombrio quanto ás intenções sobre um futuro compartilhado com todos no campo evolucionista, mesmo que mantendo aqueles pilares que ainda unem parte da humanidade: democracia e individualidade. Donald Trump não representa nada disso. O futuro com ele vai ser achar uma saída para ele. 

24 de janeiro de 2014

England is Mine!

Cheguei! No clima. Já estou habituado aos semáforos e suas vias de mão inglesa orientando meus passos pelas vertiginosas e apertadas calçadas, sem sufocar minhas lembranças da cidade natal. Passando na extremidade de um grande parque, não pude deixar de notar um casal opinando sobre a última aparição da rainha, em uma festa beneficente para soldados que voltavam amputados de sua missão no longínquo Afeganistão.

Mas também sobre a conturbada monarquia britânica, não pude deixar de participar do acalorado debate que um grupo de anarquistas em seus trajes punks faziam em Moskow Road, em Notting Hill. O Reino Unido realmente não é para principiantes, pensei logo. Tanta tradição misturado a um espírito avassalador por modernidade,  sincretismo e altivez.

Não pude resistir a uma investida quase automática para dentro de um Pub de nome Bayswater Arms e junto de um vigoroso balcão sentir a atmosfera que move a Inglaterra com tanta generosidade e poesia ao som de Beatles e Smiths. Certamente ia pedir uma Guinnes, mas fui demovido da idéia por uma jovem inglesa de cabelos ruivos e olhar penetrante. Convenceu-me a com ela pedir uma London Pride e sacrificar meus desejos irlandeses por um paladar mais inglês, londrino e nobre, segundo suas próprias palavras, entre um sorriso e outro.

Chelsea! Seu nome conduzia com a mais pura imagem da virgindade celta e começamos nossa conversa pelas beiradas, sobre poesia. Coincidentemente suas aventuras literárias eram as mesmas minhas: Oscar Wilde. Viajamos por horas sobre Dorian Gray e seu famoso retrato com algumas pausas para citar Keats, o poeta que modificou minhas convicções sobre a existência e sua misteriosa jornada. Claro que precisei citar Ode à Melancolia para ela, a fim de que opinasse sobre essa que é minha forma neste mundo, entre uma e outra felicidade passageira. Disse Keats aos desregrados, como eu...e eu disse a ela:

"Ela mora com a Beleza - Beleza que fenecerá;
E com a Alegria, cuja mão nos lábios sempre
Se despede; junto ao doloroso prazer,
Virando Veneno enquanto a boca-abelha sorve.
Sim, e no próprio templo do deleite
A velada melancolia tem seu santuário supremo,
Embora apenas o vislumbre aquele cuja língua audaz
Estala no céu da boca a uva da Alegria;
Sua alma provará a tristeza de teu poder,
E penderá em meio a seus nebulosos trofeus"

Lágrimas nos olhos, mas agora era hora de solucionar um problema óbvio que surgiu sem muitos equívocos: a atração física e emocional era inevitável a esta altura. Uma fonte de inspiração, uma porcentagem, uma corroída performance ao espaço alheio...enfim, uma aplicação no seu embaraço e estaria ganho.

Nesta hora entra no nosso pequeno Pub torcedores do Arsenal, meu querido e amado Arsenal, que hoje, por coincidência expôs toda fraqueza na defesa do arquirrival Chelsea. Coincidências da vida são o esboço de uma eternidade ao redor de sua poderosa presença.

Venho de longe querida Chelsea, de onde não há Pubs, não há gente determinada a mesclar, tal como imaginam e que estão dispostos a ficar mais expostos do que imaginaríamos em solenidades de apoio ao ato. Venho do atraso, mas você é o progresso. Não os diminuo, porém não os realço a exploradores da imagem que pensam sobre si mesmos. Estamos nos apresentando muito lentamente, conforme uma obra de arte bem concebida à péssimos entendedores.

É noite, as horas se passaram, já é tarde. Uma ansiedade...um frio que insiste penetrar nossos corações quentes e ávidos por mais dinamismo. A sugestão é a seguinte: vamos a Picaddily Circus pois lá conheço alguma gente. Vamos descontrair os espaços e deixar fluir algum ciúme! Esperar a vingança feita de muito amor e destreza para a enganar-nos nesta simetria anacrônica. Peço com gentileza e delicadeza a sua mão para esquentar os mais longínquos espasmos de solidão de outrora. Peço mais ainda: não sejamos turistas de nossos sentimentos.

O desafio está aceito e estamos nos subterrâneos dos tubos em direção a Picaddily. Escolhemos ir pela District Line, fazendo conexão por Victoria Line e de lá até Picaddily. Olho em volta e não vejo ninguém, somos únicos e estamos austeros. Ali, conversando sobre Shakespeare e Hamlet, percebo agora que duas conexões se foram enquanto deixavamos correr a partilha por congruência. Ora, que magnetismo! Que perfeição! Quanta vida está acoplada dentro de apenas uma, ou duas horas e algumas London Prides, muitos olhares e principalmente atmosfera!

Finalmente, Picaddily Circus! Estamos no coração de Londres e meu coração está complemente tomado por comoção desenfreada. Três grandes amigos meus me esperam. Um inglês, um irlandês e um escocês. Chelsea logo se apressa em demonstrar sua sinceridade quanto ao Pub que acabamos de entrar: muito barulhento. Me diz que lembra a quadras de escolas de samba da minha cidade. Digo em resposta que nem se compara, visto que agora começa a tocar The Cure! Atmosfera mais uma vez!

A conversa agradável agora fica um pouco monótona, visto que meu amigo irlandês é falastrão e pede por diversas vezes a palavra, sem parcimônia nem cuidado acerca da independência de seu país e a ocupação inglesa. Intervenho em favor da unidade e predomínio da cultura britânica como um todo. Todos sorriem cordialmente! Estamos em Londres e vejo o futuro da minha mentalidade reinar, literalmente por aqui. Chelsea concorda e agora estamos alegremente bebendo Guinnes em homenagem a meu nobre amigo irlandês. Mas alerto-os que a cordialidade a meu amigo escocês deverá ficar para outro dia...Risos!

Chelsea me pede e vamos embora, desta vez de ônibus para que a viagem que está só começando não perca seu sentido. Está decidido: esta noite não vou para o hotel. Ficarei com minha amada, visto que agora minha alma é britânica e essencialmente inglesa. Um beijo. Abraços sinceros! Estou em Londres e não pretendo sair. Não quero voltar. Nada deixarei para trás. Meu nascimento longe daqui foi uma mera anedota do destino. Amanhã vamos acordar e o desjejum vai ser desfrutado em Candem Town, para onde correm todas as almas loucas deste mundo, em busca de refúgio, conselhos mal dados e liberdade.
Chelsea, que visualizei em um balcão sentada com uma formosa presilha no cabelo, sustentando um exuberante par de brincos prateados, em forma de flores do campo. Estimula minha força de vontade e paciência com destemor. Agora estou do outro lado do mundo mas não olho mais para os lados e nem bebo mais London Pride sem destoar de mim mesmo. Cheguei, e não vou mais sair, pois estamos em Londres e aqui tudo é possível. Como diria Morrissey:

Well I wonder
Do you hear me when you sleep?
I hoarsely cry
Well I wonder
Do you see me when we pass?
I half die
Please keep me in mind
Please keep me in mind
Gasping - but somehow still alive
This is the fierce last stand of all I am
Gasping - dying - but somehow still alive
This is the final stand of all I am
Please keep me in mind
Well I wonder
Well I wonder
Please keep me in mind
Oh, keep me in mind
Keep me in mind

23 de janeiro de 2013

Notas de três

Sobre a velha escala, estava decidido em avaliar pelo final, conforme foi proposto no início das aulas. Ficava obcecado por números no passado, somente até minha primeira prova, quando conheci aquela professora de matemática, que de nada me aliviou nos testes.
 
Foi no trigésimo dia de aula, do terceiro ano do nível médio, na sala trinta e três que supliquei pela primeira vez para ser salvo daquela déspota esclarecida, que sonhava em me doutrinar através de seu raciocínio lógico, sem lógica alguma. Seu nome era Triglécia.


Quando adentrei à sala nenhuma outra cadeira estava mais disponível que não fosse a terceira, de trás para a frente, quando me aplicou aquela última prova deste ano...pensei em começar pela terceira questão, por dever. Gostava das dificuldades ainda mais agora.

 
Observei a ponta do lápis durante três minutos e comecei com esperança de não decepcionar minha algoz. Ainda que nosso querido Pitágoras ficasse revoltado com minha descrença na matemática. Triglécia ainda acreditava num futuro promissor para mim, tanto que ganhei uma tapa da velha régua que estava pendurada ao lado da porta. Ela disse que só fazia isso com que realmente se importava. Só porque estava de olho nos pequenos seios de minha amiga Trícia, que agora desbotavam para a vida com maestria. Pecado!


Tento me concentrar nos números primos e lembro da velha infância que me causou dislexia para as contas. Lá atrás, deveria ir todos os dias, como trabalho de ofício, comprar umas cervejas para o meu pai, com as moedas contadas. Acontece que ia sempre com minhas três primas de terceiro grau, e era convencido a pagar-lhes refrigerantes de uva, na quantidade que você já deve saber. Meu pai já estava insatisfeito com tal situação há tempos e por isso me mandou procurar o exército. Foi aceito, mas somente no 3° batalhão de Cavalaria. Já era tempo de crescer.

 
Foi por essas lembranças conflituosas que deixei a questão dos números primos de lado e decidi que a geometria era a grande possibilidade de não causar um desastre total durante essa prova, que poderia definir todo meu futuro, como disse a professora Triglécia há mais ou menos três horas atrás.

 
Pensei: geometria seria mais fácil, pois apesar de míope, e com uma pequena parcela de astigmatismo no meu olho direito, é só captar o tamanho e as formas. Moleza, moleza!Principalmente porque a geometria está em todas as formas existentes no planeta, como bem disse meu amigo Trimócles, que trabalhava havia muitos anos como arquiteto. Ele me explicava constantemente sobre a engenharia das pirâmides, enquanto bebíamos três garrafas de Wisky a cada três semanas.

 
Disse que foram calculadas através de geometria avançada e que qualquer dificuldade que tivesse, poderia começar qualquer operação usando somente a regra de três. Esse gênio calculou mal, pois tentei utilizar esse conceito no montante de um grande amigo que devia pensão alimentícia à sua terceira mulher, mas ele acabou preso numa cela de três metros.

 
Agora que era advogado, resolvi que o concurso público era a minha única saída para não me lembrar mais de Triglécia tão pejorativamente. Estudei, mas aquilo não entrava na minha cabeça durante o dia, então resolvi estudar às três da manhã, que além de mais calmo, ainda posso olhar pela janela do meu apartamento, na terceira avenida.

 
Lembrando-me daquela prova do passado, onde comecei pela terceira questão, opto agora a começar pela primeira, igual a todo mundo. As horas correm e eu não estou nervoso. Olhei para os lados e nada estava diferente. Começo a avaliar as questões, tudo revisado e...a terceira questão está confusa!

 
Migrei para a velha infância a fim de  resolver mais este problema, que parecia insolúvel até que e me deparei com os primeiros versos dos  antepassados que diziam: "Assume a tua terceira via, como os britânicos o fizeram em tempos de crise, que vais alcançar!".

  
Adotei a ideia e agora espero um pouco mais da vida, após ser aprovado neste concurso singelo...em terceiro lugar na classificação geral. Triglécias nunca mais...

16 de janeiro de 2013

Na Butte


Para não deixar escapar uma centelha de energia que não esteja nos meus planos desta tarde, abre-se uma porta para o infinito, um inatingível ser desconhecido e aprende-se que o que foi, jamais será novamente. Estou na Butte.
 
São momentos de esplendor, com diversas caricaturas frias e feias sob minha face. Nada importa que não seja fortuna agora. Somente algumas passadas no velho script e vamos adiante, com paciência.
No entanto, entusiasticamente, voltaremos a velhos sentimentos, tão logo as coisas voltem ao normal.
Êxtase e furor ao alcançar o topo, o topo das gargalhadas e gracejos de gente que vem até a Butte para angariar fundos aos seus desesperos mais profundos e poder transformá-los em esperanças. Só na Butte isso é possível.
 
Para tanto, uma grande operação de resgate dos antigos habitantes se torna necessária. Nada mais, nada menos que obra do ofício galopante, dentro de uma tarde gelada pelas ruas de Montmartre, em Paris...a nossa eterna aventura dentro dos corações mais sôfregos. Montmartre suspira nossos cigarros diante da diversidade...diante do multi paladar.
 
Há amor ainda? Nada que tenha sobrado de sua pequena alma amargurada? Ainda não é nosso termômetro em temperaturas agora diminutas, gradualmente no desespero de um rude suspiro.
Sofrimento em meio ao grande caos já causado tampouco deixaria de penetrar na alma, mas veio num devaneio. Me esquivo da pouca sorte agora com parcimônia, tal qual um cavaleiro cosmopolita, nas estreitas ladeiras que agora desço lentamente.

Cavalgaremos até chegar ao zênite das famosas estripulias de saltimbancos. Nestas condições, a forma da lei é a honraria de agora procurar tumbas de algumas famílias pródigas, outras nem tanto, ainda cheirando a esplendorosos Chanel n° 5. São os esquecidos da Butte! Vamos encontrá-los bem inclinados, depois de muitas voltas e algumas desagradáveis pessoas trajando roupas maltrapilhas.
Dentro desta calmaria pouco desejada, espero conseguir angariar novas permissões para transpor a boa vontade das pessoas, que me olham com desconfiança agora.
 
Na tristeza também é possível achar-se feliz, não muito no tom, menos ainda na forma, sem causar estardalhaços aos vizinhos em descanso eterno.
 
Com paciência se desconstrói uma fórmula que, de pré-moldadas fantasias exorbitantes, não chegariam sequer ao fascínio de idiotas à espera de mais confusão e desmembramentos.
Espero, com ainda mais paciência esquecer suas formas para que, nada volte a aterrorizar minhas já perturbadas algazarras madrugada adentro.
 
Deixo, na penumbra de um intruso sentimento de culpa, vociferar outro sentimento, o de um frutífero renascer nas margens de assombrações que não podem mais climatizar esse quarto da forma que adorariam fazer outrora.
 
Pensei: com cuidado, qualquer pessoa navega pelas tortuosas teclas dos telefones afim de ligar, nem que seja o foda-se para falar de alguns contratempos que tive ao retornar daquelas terras...

Foram alguns 50 passos dados na direção oposta de um pequeno chafariz que jogaria uma moeda de centavos, para não exagerar no pedido que nem eu mesmo acreditava àquela altura da situação. Joguei e esperei pela resposta que não deverá vir sem grandes sobressaltos.
 
O frio me dominava àquela altura, tanto que um cachecol enrolava, com prudência o meu pescoço quando acidentalmente caiu no chão da Rue Laffitte, onde casais degustavam seus vinhos pelas vielas.

Dois, em especial deixavam clara a sua satisfação com o uma pequena exposição de artistas da geração seguinte. Sucumbiam diante da fama  daquele espalhafatoso espanhol, que comandou marchas emblemáticas.
 
Era tarde, quando me dirijo ao grande palco dos acontecimentos, uma pequena praça onde senhoras generosas alimentam seus pássaros, que livremente endossam a expectativa de todos por expansividade.
 
Estamos na Butte para celebrar, cantar e sorrir, conforme os anseios vão se apresentando, de forma viral. São diversas cores animando quem passa para deixar um ramo de flores no pedestal do soldado da arte.
 
Finda o dia, vamos descer, enquanto outros sobem, para olhar a diferença entre o sótão e o térreo, da mais bonita cidade do mundo, que é aquela dos seus sonhos e da imaginação de todos os etílicos profissionais. Então, voltamos ao centro, sempre com saudades da Butte.

22 de junho de 2010

Anarquia Quae Sera Tamen

A origem de todas as pequenas lembranças está na forma como vou de um pólo a outro sem calúnias e difamações, que possam gerar processos em tribunais de jovens atores para deixar vestígios de uma conduta grotesca. Não dá para ordenar nada suplicando algo, como uma falange que anuncia perdas no campo de batalha sem o uso adequado da tropa. Visto que isso não é uma variante, partamos então para a minha pedida favorita nesta hora de poucas amabilidades entre nós: anarquia!

Aqui ao meu lado são formas e fôrmas, e seus conteúdos fomentam o paraíso de antigos cantos, que no passado louvavam Deuses de fertilidade. Vazias ou cheias, não representam nosso estado de hibernação diante da pouca coincidência dos dias de tempestade, à beira da nossa pequena casa encolhida no rochedo.

Saltitamos para aquele momento em que nada mais vai ser Revolução Industrial. Vai ser Revolução Francesa sim! Mas sem Napoleão Bonaparte e seus profetas, sem os arautos da esperança nas ruas ainda sujas pela perspectiva de trovadores das sangrentas batalhas das ruas e vielas com seus bonés vermelhos. C’est la vie mon amour. Mudanças sem peritos, sem estatísticas e sem óculos, Agora tudo está tão sem direção e sem indução, que não deixa alternativa aos mercadores de Veneza senão baixar o preço de nossos pequenos objetos de família no balcão dos desesperados.

A visão do mais oportunista vai despertar alentos de aromas fétidos no mais soberano dos poetas da revolta. Neste momento então, vais perceber que casacos pendurados em um único ombro não condicionam o demasiado calor daqueles que porventura não cobrem com dignidade, principalmente para seus planos de amedrontar pilares de paranóicos homens de mesa das velhas tavernas.

Saboreei muito bem o tempero que sua maravilhosa engenhosidade proporcionou na nossa quase falida fase de oportunidades. Isto é como aparecer no plenário para ter uma visão acerca de cenas antigas de um monumento já cansado e póstumo, prostrado no centro do salão de jogos, que não traz mais luminosidade ao recinto como outrora.

A minha respiração agora é ofegante, só para climatizar um vento que não proporciona frescor de sonoridades marcantes. Palidez é o branco do seu chapéu de pano, camuflado por misturas de fina e excludente temperança na sozinha sinalização de murmúrios por baixo da aba dobrada. Mesmo misturada a vozes que se perdem na multidão de grandes pensamentos combinados a pequenas atitudes de origamis mal feitos.

Aquele foi o gesto mais digno para oficializar o momento de preces jogadas ao infinito: levante, já! Fumaça é a oportunidade para misturar nossa podridão ao relacionar vivências com pendências, Mas quando tudo estava ficando cadente na marcha, algo veio para alegrar-me por oportuno, conforme já havia sido alertado pelo patriarca das duas torres anteriormente, através de zumbidos, e que agora reside na farmácia de geladeiras empilhadas por vidros transparentes. Foi aquela velha amiga minha quem avisou-me que é pelas mãos que o principal sentido de pretensão pode ser avaliado com textura de afeto.

E no fim é o seguinte: anarquia! Pois não temos mais tempo para construções nesta guerra de pontos e fobias. Reinará para nós um comando de desgoverno, reunidos em assembléias de vagabundos da esbornia paroquia em dias de santos. Chegaremos ao fim do percurso com o pernoitar de uma insônia cambaleante no marasmo dos dias. Logo eu, que estive à frente de uma profissional legião de bravos combatentes na travessia por despenhadeiros de deformidades dos néscios. Agora, queremos ausência de coerção, não ausência de ordem; Queremos ausência de força, não ausência de equilíbrio; Queremos ausência de discurso, não ausência de conceitos; Queremos ausência de política, não ausência de luta. Enfim, queremos ausência método, não ausência de paixão.

Entrincheirados em pequenos esconderijos para melhor preparar os próximos passos de uma revanche, que era ofuscada seguidamente por uma condescendência abusiva ao menor valor. É chegada a hora: preparo então o meio de ação mais conveniente e volto à confirmar as expectativas, baseadas na obra prima de meu inimigo, com a destreza de esgrimistas da Grécia Antiga. Quando então, o saibro já está pronto para desfechar o golpe final, lembro-me que o trágico fim será sempre uma anarquia interior para condensar um bem exterior. Desta vez, portanto, usei de sofisma para apreciar o universo com a calamidade necessária às melhores masmorras. Anarquia Quae Sera Tamen vai chegar em breve, para mim e para você!

25 de março de 2010

Alcoólicos

Bebiam juntos, em lados opostos.
Vestidos de penumbra, olhos vidrados em reminiscências de quase nada.
Copos alcoolizados, sobre a mesa, bourbon.
No bar, clangores de adeus.
Garçons cansados, empilhavam cadeiras.
Ventiladores tontos.

Amargos ritos de monotonia, eles acariciavam o membro necrosado.
Fediam a desilusão.
Ainda, enquanto todos já foram.
Os últimos a abandonarem o ontem e os primeiros a esquecerem o amanhã.


Gestos torpes.
A duras penas, malabarismos para longos goles de crestar laringes.
Olhos vermelhos, auroras.
Presos em si mesmos, conteúdos de um casulo que os faria piores após a eclosão.
Pelas paredes, entre bolor e carpetes, embriagado jazz negro engatinhava.
Eles não o ouvia.
Ouviam a solidão.
Não me abandonem, ela murmurava. Sem vocês, eu me torno amor.
O amor, eles fingiam, é uma ferida que, quando cicatriza, nunca existiu.


Até que se encontraram.
Numa falha despretensiosa, entreolhar leviano.
Mãos oblíquas, bocas dos copos abocanhando suas bocas.
Seus olhos adernaram para o fundo de vidro e, na magia da óptica, lampejos!, estavam tão próximos, apresentados.
Prazer e pantomima.
Lentamente.
Pousaram o copo de conteúdo cuspido e erguerem-se sobre pernas pesadas.
Arrastaram-se em sapatos ruidosos, um de encontro ao outro, num inexpressivo balé de medíocre sedução para platéia nenhuma.
Iguais, puxaram duas cadeiras.
Iguais, sentaram numa mesa vestida de vida.
Debaixo de um halo de luz, sob o domínio de suas diferenças, sem máscaras, o silêncio da primeira impressão.
Longos anos de um segundo.
Dissidências e hesitações, até que ruiu a primeira palavra: redenção.
E dos verbos fizeram frases.
Das frases, estórias,
Das estórias, fins.
E ao fim dos fins, um beijo... lentamente.

Na manhã seguinte, saborearam no café-da-manhã o que sobrou de sexo da noite anterior.
Embaixo dos lençóis, um novo espetáculo de risadas para platéia nenhuma.
Mas eles não se importavam.
Estavam felizes.
Viviam dos sorrisos largos, das trocas de roupas, das viagens de chuva, dos filmes que não entendiam o final.
As fraquezas ímpares, aos borbotões sucumbiam aos zelos pares.
Ternura.
Respeito.
Congruência.
Imaginação.
Pintaram paredes, comemoraram aniversários, combinaram um jantar para um dia depois da eternidade.
Mas então.

Mas então, que numa falha despretensiosa, a vida foi se transformando num amargo rito de monotonia.
Sob ventiladores tontos, sobre a cama, ele vestia-se de penumbra, enquanto ele tinha os olhos vidrados em reminiscências de quase nada.
Copos alcoolizados se espalhavam pelo carpete.
Dentro daquele casulo, a eclosão era inevitável.
Em longos segundos de um ano, foram se tornando os primeiros a esquecerem o ontem e os últimos a abandonarem o amanhã.
Solidão.
Perdiam o amor.
Não me abandonem, ele rugia.
Sem vocês, eu me torno coragem.
E o amor, cicatrizado, tornou-se uma ferida que nunca existiu.
Adeus!
Um dia qualquer, estavam num bar.
Bebendo juntos, em lados opostos.