... bourbons... alcatrões... e pensamentos intoxicados...

23 de janeiro de 2013

Notas de três

Sobre a velha escala, estava decidido em avaliar pelo final, conforme foi proposto no início das aulas. Ficava obcecado por números no passado, somente até minha primeira prova, quando conheci aquela professora de matemática, que de nada me aliviou nos testes.
 
Foi no trigésimo dia de aula, do terceiro ano do nível médio, na sala trinta e três que supliquei pela primeira vez para ser salvo daquela déspota esclarecida, que sonhava em me doutrinar através de seu raciocínio lógico, sem lógica alguma. Seu nome era Triglécia.


Quando adentrei à sala nenhuma outra cadeira estava mais disponível que não fosse a terceira, de trás para a frente, quando me aplicou aquela última prova deste ano...pensei em começar pela terceira questão, por dever. Gostava das dificuldades ainda mais agora.

 
Observei a ponta do lápis durante três minutos e comecei com esperança de não decepcionar minha algoz. Ainda que nosso querido Pitágoras ficasse revoltado com minha descrença na matemática. Triglécia ainda acreditava num futuro promissor para mim, tanto que ganhei uma tapa da velha régua que estava pendurada ao lado da porta. Ela disse que só fazia isso com que realmente se importava. Só porque estava de olho nos pequenos seios de minha amiga Trícia, que agora desbotavam para a vida com maestria. Pecado!


Tento me concentrar nos números primos e lembro da velha infância que me causou dislexia para as contas. Lá atrás, deveria ir todos os dias, como trabalho de ofício, comprar umas cervejas para o meu pai, com as moedas contadas. Acontece que ia sempre com minhas três primas de terceiro grau, e era convencido a pagar-lhes refrigerantes de uva, na quantidade que você já deve saber. Meu pai já estava insatisfeito com tal situação há tempos e por isso me mandou procurar o exército. Foi aceito, mas somente no 3° batalhão de Cavalaria. Já era tempo de crescer.

 
Foi por essas lembranças conflituosas que deixei a questão dos números primos de lado e decidi que a geometria era a grande possibilidade de não causar um desastre total durante essa prova, que poderia definir todo meu futuro, como disse a professora Triglécia há mais ou menos três horas atrás.

 
Pensei: geometria seria mais fácil, pois apesar de míope, e com uma pequena parcela de astigmatismo no meu olho direito, é só captar o tamanho e as formas. Moleza, moleza!Principalmente porque a geometria está em todas as formas existentes no planeta, como bem disse meu amigo Trimócles, que trabalhava havia muitos anos como arquiteto. Ele me explicava constantemente sobre a engenharia das pirâmides, enquanto bebíamos três garrafas de Wisky a cada três semanas.

 
Disse que foram calculadas através de geometria avançada e que qualquer dificuldade que tivesse, poderia começar qualquer operação usando somente a regra de três. Esse gênio calculou mal, pois tentei utilizar esse conceito no montante de um grande amigo que devia pensão alimentícia à sua terceira mulher, mas ele acabou preso numa cela de três metros.

 
Agora que era advogado, resolvi que o concurso público era a minha única saída para não me lembrar mais de Triglécia tão pejorativamente. Estudei, mas aquilo não entrava na minha cabeça durante o dia, então resolvi estudar às três da manhã, que além de mais calmo, ainda posso olhar pela janela do meu apartamento, na terceira avenida.

 
Lembrando-me daquela prova do passado, onde comecei pela terceira questão, opto agora a começar pela primeira, igual a todo mundo. As horas correm e eu não estou nervoso. Olhei para os lados e nada estava diferente. Começo a avaliar as questões, tudo revisado e...a terceira questão está confusa!

 
Migrei para a velha infância a fim de  resolver mais este problema, que parecia insolúvel até que e me deparei com os primeiros versos dos  antepassados que diziam: "Assume a tua terceira via, como os britânicos o fizeram em tempos de crise, que vais alcançar!".

  
Adotei a ideia e agora espero um pouco mais da vida, após ser aprovado neste concurso singelo...em terceiro lugar na classificação geral. Triglécias nunca mais...

16 de janeiro de 2013

Na Butte


Para não deixar escapar uma centelha de energia que não esteja nos meus planos desta tarde, abre-se uma porta para o infinito, um inatingível ser desconhecido e aprende-se que o que foi, jamais será novamente. Estou na Butte.
 
São momentos de esplendor, com diversas caricaturas frias e feias sob minha face. Nada importa que não seja fortuna agora. Somente algumas passadas no velho script e vamos adiante, com paciência.
No entanto, entusiasticamente, voltaremos a velhos sentimentos, tão logo as coisas voltem ao normal.
Êxtase e furor ao alcançar o topo, o topo das gargalhadas e gracejos de gente que vem até a Butte para angariar fundos aos seus desesperos mais profundos e poder transformá-los em esperanças. Só na Butte isso é possível.
 
Para tanto, uma grande operação de resgate dos antigos habitantes se torna necessária. Nada mais, nada menos que obra do ofício galopante, dentro de uma tarde gelada pelas ruas de Montmartre, em Paris...a nossa eterna aventura dentro dos corações mais sôfregos. Montmartre suspira nossos cigarros diante da diversidade...diante do multi paladar.
 
Há amor ainda? Nada que tenha sobrado de sua pequena alma amargurada? Ainda não é nosso termômetro em temperaturas agora diminutas, gradualmente no desespero de um rude suspiro.
Sofrimento em meio ao grande caos já causado tampouco deixaria de penetrar na alma, mas veio num devaneio. Me esquivo da pouca sorte agora com parcimônia, tal qual um cavaleiro cosmopolita, nas estreitas ladeiras que agora desço lentamente.

Cavalgaremos até chegar ao zênite das famosas estripulias de saltimbancos. Nestas condições, a forma da lei é a honraria de agora procurar tumbas de algumas famílias pródigas, outras nem tanto, ainda cheirando a esplendorosos Chanel n° 5. São os esquecidos da Butte! Vamos encontrá-los bem inclinados, depois de muitas voltas e algumas desagradáveis pessoas trajando roupas maltrapilhas.
Dentro desta calmaria pouco desejada, espero conseguir angariar novas permissões para transpor a boa vontade das pessoas, que me olham com desconfiança agora.
 
Na tristeza também é possível achar-se feliz, não muito no tom, menos ainda na forma, sem causar estardalhaços aos vizinhos em descanso eterno.
 
Com paciência se desconstrói uma fórmula que, de pré-moldadas fantasias exorbitantes, não chegariam sequer ao fascínio de idiotas à espera de mais confusão e desmembramentos.
Espero, com ainda mais paciência esquecer suas formas para que, nada volte a aterrorizar minhas já perturbadas algazarras madrugada adentro.
 
Deixo, na penumbra de um intruso sentimento de culpa, vociferar outro sentimento, o de um frutífero renascer nas margens de assombrações que não podem mais climatizar esse quarto da forma que adorariam fazer outrora.
 
Pensei: com cuidado, qualquer pessoa navega pelas tortuosas teclas dos telefones afim de ligar, nem que seja o foda-se para falar de alguns contratempos que tive ao retornar daquelas terras...

Foram alguns 50 passos dados na direção oposta de um pequeno chafariz que jogaria uma moeda de centavos, para não exagerar no pedido que nem eu mesmo acreditava àquela altura da situação. Joguei e esperei pela resposta que não deverá vir sem grandes sobressaltos.
 
O frio me dominava àquela altura, tanto que um cachecol enrolava, com prudência o meu pescoço quando acidentalmente caiu no chão da Rue Laffitte, onde casais degustavam seus vinhos pelas vielas.

Dois, em especial deixavam clara a sua satisfação com o uma pequena exposição de artistas da geração seguinte. Sucumbiam diante da fama  daquele espalhafatoso espanhol, que comandou marchas emblemáticas.
 
Era tarde, quando me dirijo ao grande palco dos acontecimentos, uma pequena praça onde senhoras generosas alimentam seus pássaros, que livremente endossam a expectativa de todos por expansividade.
 
Estamos na Butte para celebrar, cantar e sorrir, conforme os anseios vão se apresentando, de forma viral. São diversas cores animando quem passa para deixar um ramo de flores no pedestal do soldado da arte.
 
Finda o dia, vamos descer, enquanto outros sobem, para olhar a diferença entre o sótão e o térreo, da mais bonita cidade do mundo, que é aquela dos seus sonhos e da imaginação de todos os etílicos profissionais. Então, voltamos ao centro, sempre com saudades da Butte.